Por Marcelo Miguel
Fotos de Marcelo Miguel - Imagens do Ritual do Jawari no ano de 2017
na aldeia Kuikuro, Alto Xingu, Parque Indígena do Xingu - MT
A primeira viagem de Vladimir Kozák para a região do Alto Xingu foi no ano de 1952. Apesar de estar na companhia da equipe do Museu Nacional do Rio de Janeiro, esta era a primeira viagem que Kozák fazia por interesse próprio e cuja logística era de sua inteira e total responsabilidade sem a participação do Museu Paranaense.
Este também foi um de seus primeiros contatos com os povos indígenas e um mergulho na cultura dos povos do Alto Xingu. Talvez por esta razão, Kozák não estivesse devidamente preparado para este momento, afinal de contas, para filmar e fotografar naquela época, era preciso rolos e rolos de filmes, e quilos e quilos de equipamentos.
Para chegar no Alto Xingu, Kozák partiu de Curitiba com destino ao Rio de Janeiro, e de lá, seguiu de carona num avião do Correio Aéreo Nacional junto com a equipe do Museu Nacional. Em seguida, após várias escalas e alguns dias, já no Mato Grosso, Kozák ainda seguiu viagem de carro e barco, num percurso total de quase três mil quilômetros.
Nesta viagem, Kozák conheceu os irmãos Vilas-Boas e presenciou o ritual do Kwarup, uma das mais importantes cerimonias dos povos do Alto Xingu. Ao final, uma sensação de que poderia ter tirado mais fotos e realizado mais filmagens.
Assim, no ano seguinte, em 1953 Kozák volta ao Alto Xingu, desta vez mais preparado. Para poder filmar mais e fotografar mais, ele contrata um ajudante, um jovem rapaz, que iria ajudá-lo a carregar e transportar mais equipamentos, principalmente durante os deslocamentos entre as aldeias.
Mais uma vez, partindo do Rio de janeiro de carona nos aviões do Correio Aéreo Nacional, Vladimir Kozák demorou alguns dias mais para poder chegar ao destino e completar a viagem. Por vezes, por falta de espaço nas aeronaves, ele, sua irmã Karla e seu ajudante, foram obrigados a descer do avião nas escalas de voo, interrompendo o deslocamento, e assim, aguardar outra aeronave nos dias seguintes.
Assim, Kozák demorou mais do que o esperado para chegar, e seu desejo naquela ocasião era a de registrar o ritual do Jawari, outro ritual importante, uma cerimonia que simulava um combate entre aldeias, para reverenciar e homenagear algum guerreiro recém-falecido da aldeia.
Para participar do Jawari, a aldeia que organiza a cerimonia (que também é tratada pelos habitantes da aldeia como uma festa) convida os moradores de outras aldeias para a realização de duelos e combates simulados entre eles.
Por estar atrasado, ao chegar em um avião que acabara de pousar em uma pista de terra ao lado da aldeia Kamaiurá, local onde aconteceria a chamada festa do Jawari exatamente naquele dia, Kozák desembarca rapidamente, monta seu equipamento na entrada da aldeia e pede para seu ajudante ficar ali aguardando, enquanto ele e sua irmã, entram na aldeia em busca dos amigos que ele fizera no ano anterior.
O avião então segue viagem, deixando o ajudante sozinho junto ao equipamento, enquanto Kozák corre para o centro da aldeia, distante cerca de um quilometro dali.
Nesta hora, surge no horizonte um grupo de 60 a 70 guerreiros, pintados e trajados para o combate, empunhando suas lanças e gritando freneticamente, seguindo em direção ao ajudante que assiste a tudo muito assustado.
Ao perceber aquele grupo de ferozes indígenas rumando em sua direção, o jovem assistente não hesitou e saiu correndo em disparada para dentro da floresta. Kozák, demorou mais de cinco horas para reencontrar novamente seu ajudante assustado.