Quem foi

Vladimir Kozák

 "O caçador de imagens"

Cena do filme "Kozak e os Povos Indígenas do Brasil" gravado no Rio Xingu (Mato Grosso),

com previsão de lançamento para o ano de 2024.

Vladimir Kozák foi engenheiro, etnógrafo, documentarista, cineasta, fotógrafo, pesquisador e artista tcheco, que viveu a maior parte de sua vida no Brasil, conquistando a cidadania brasileira em 1954.

 

Entre os anos de 1924 e 1979, Kozák viveu no Brasil, nesse período ele pintou, desenhou, fotografou e filmou diversos povos indígenas, tendo visitado e convivido com mais de duas dezenas de diferentes etnias nos estados do Pará, Maranhão, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Paraná e Santa Catarina. A maior parte das expedições para estas aldeias e localidades era feita com recursos próprios, enfrentando muitas dificuldades e obstáculos.

 

Nascido em 19 de abril de 1897, coincidentemente na data em que se comemorou por muitos anos o dia do índio no Brasil, Kozák é natural da pequena cidade de Bystřice pod Hostýnem, na região da Morávia. Na época este território pertencia ao Império Austro-Húngaro. Atualmente sua cidade natal faz parte da região de Zlín no sudeste da República Tcheca.

 

Em 1914, ele se alistou e lutou aos dezessete anos de idade na Primeira Grande Guerra Mundial, nas frentes de combate da Itália e na Bulgária. Com o término da guerra, Kozák, entre 1919 e 1923, cursou e se formou em Engenharia Mecânica na Escola Superior de Ensino Industrial de Brno, na então Tchecoslováquia.

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Vladimir Kozák chegou no Brasil

em 04 maio de 1924.

Vladimir Kozák

combateu durante a Primeira Grande Guerra Mundial, defendendo o exercito do Império Austro-Húngaro nas frentes de combate da Itália e Bulgária.

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Kozák se alistou ainda com 17 anos de idade.

 

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Imagens pertencentes ao acervo do Museu Paranaense / SEEC - Governo do Paraná

Fugindo da depressão pós-guerra, e da crise econômica causada pela pandemia de gripe espanhola, que assolava toda a Europa, Kozák se muda para o Brasil em abril/maio de 1924. Havia uma esperança de conseguir um emprego na multinacional norte-americana Eletric Bond and Share Company. Esta empresa que atuava em várias cidades brasileiras, explorava a produção e distribuição de energia elétrica, bem como, o transporte público por bondes elétricos.

 

Após desembarcar no Rio de Janeiro em maio de 1924, inicialmente Kozák se estabelece na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo. No final de quase seis anos, em 1930, foi definitivamente contratado pela Eletric Bond and Share Company (EBASA), passando a residir em Salvador (BA) e posteriormente em Belo Horizonte (MG).

 

Em 1938, Vladimir Kozák é transferido mais uma vez e se estabelece em definitivo em Curitiba, capital do Paraná, cidade onde se aposentou na década de 50, enquanto ainda atuava na Companhia de Energia Elétrica do Estado, hoje conhecida como COPEL.

 

Em seus primeiros anos no Paraná, ele conhece o médico e antropólogo José Loureiro Fernandes, diretor do Museu Paranaense. Este, o convida para assumir de forma voluntária e sem remuneração a chefia da Seção de Cinema Educativo do Museu, passando a atuar em uma das maiores instituições científicas brasileiras da época.

 

 

Entre 1946 e 1963, Kozák foi o responsável pelos registros das expedições de campo do Museu Paranaense, acompanhando os pesquisadores da instituição em inúmeras incursões pelo Paraná. Vladimir participou de muitas viagens na companhia de José Loureiro Fernandes (antropólogo), Oldemar Blasi (arqueólogo), João José Bigarella (geólogo) e o Pe. Jesus Moure (biólogo).

 

Nesse período, o Museu Paranaense se dedicava à pesquisas pioneiras nas áreas de antropologia e ciências naturais, realizando um inventário da paisagem e da diversidade étnica e cultural do estado do Paraná. Praticamente todas as imagens deste importante trabalho, foram produzidas por Vladimir Kozák e compõe hoje relevante acervo de referência da identidade cultural do Estado do Paraná.

 

Além disso, por iniciativa pessoal e muitas vezes com recursos próprios, ele empreendeu inúmeras outras expedições, viajando para regiões do norte e centro-oeste do Brasil, principalmente com o intuito de filmar e retratar os povos indígenas brasileiros.

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Acima, fachada do Centro Cultural Casa Kozák, administrado pela Fundação Cultural de Curitiba. O local foi a última residência de Vladimir Kozák na cidade de Curitiba e está localizada no bairro do Uberaba. O imóvel foi construido por Vladimir Kozák ainda na década de 1950.

 

A partir de meados dos anos 50, após se aposentar pela Companhia Força e Luz do Paraná, Kozák foi efetivado pela Universidade Federal do Paraná, passando a realizar registros e filmagens para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

 

É justamente nas décadas de 50 e 60 que sua produção cinematográfica se torna mais acentuada. Nesse período no Paraná, Kozák acompanha e documenta os primeiros encontros e contatos com o Povo Indígena Xetá, na região da Serra dos Dourados no noroeste do estado do Paraná. No estado do Mato Grosso, ele também registra importantes rituais como o Kwarup e o Jawari entre os povos indígenas do Alto Xingu, e o ritual Funerário do povo Bororo, entre muitas outras celebrações.

 

Seu trabalho foi utilizado por grandes pesquisadores, como por exemplo o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss e o linguista tcheco Cestmír Loukotka. Ambos publicaram em seus livros imagens e relatos feitos por Vladimir Kozák junto ao povo indígena Bororo do Mato Grosso. 

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Imagens pertencentes ao acervo do Museu Paranaense / SEEC - Governo do Paraná

Já na década de 70, com o apoio e a participação do amigo Robert Carneiro, antropólogo do Museu de História Natural de Nova Iorque, Kozák vê parte de seu trabalho ser publicado e divulgado nos Estados Unidos e Canadá. Além de ter alguns de seus filmes veiculados em uma emissora de TV norte-americana.

 

Após sua morte em janeiro de 1979 na cidade de Curitiba, por não possuir herdeiros, todo o seu vasto acervo é transferido para o Museu Paranaense em Curitiba, onde permanece até os dias hoje.

 

Também encontramos partes do acervo e da obra de Vladimir Kozák espalhadas por museus no Canadá, França, Estados Unidos e algumas outras instituições no Brasil como o Museu do Índio - FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e Museu da Universidade Federal do Paraná.

 

Vladimir Kozák está enterrado no cemitério da Água Verde em Curitiba, Paraná, ao lado de sua irmã Karla Kozáková, sua eterna companheira de viagens e aventuras por muitos anos.

TEXTOS SOBRE VLADIMIR KOZÁK

Vladimir Kozák chegou a Curitiba, capital do Paraná, em abril de 1938. Logo nos primeiros dias, caminhando pelas ruas da cidade nas manhãs frias do outono, Kozák sentiu uma estranha sensação de familiaridade. Pela primeira vez após 14 anos vivendo no Brasil, sentia que poderia finalmente criar raízes em uma cidade brasileira. As estações bem definidas e o clima ameno de Curitiba (PR), lembrava a sua Morávia, região da Tchecoslováquia onde nascera.

 

Com direito a bolo e velinhas de aniversário, foi celebrado no ultimo dia 19 de abril no Centro Cultural Casa Kozák em Curitiba, o aniversário de nascimento de Vladimir Kozák, que se estivesse vivo completaria 125 anos de idade. Na ocasião foi realizada palestra contando com a presença da antropóloga Fernanda Maranhão e do poeta e radialista Marcelo Miguel, que além de apresentar relatos e histórias sobre Vladimir Kozák também exibiram relatos e imagens do ritual Jawari, festa tradicional dos povos indigenas do Alto Xingu.

A primeira viagem de Vladimir Kozák para a região do Alto Xingu foi no ano de 1952. Apesar de estar na companhia da equipe do Museu Nacional do Rio de Janeiro, esta era a primeira viagem que Kozák fazia por interesse próprio e cuja logística era de sua inteira e total responsabilidade.